Bernardinho abre o jogo e dá dicas aos profissionais que querem construir carreira no mercado esportivo

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Um dos mais vitoriosos nomes do esporte brasileiro e referência quando o assunto é voleibol, Bernardo Rocha de Rezende extrapolou o universo esportivo para se tornar bem-sucedido em outros desafios extras-quadras. Um dos maiores palestrantes do Brasil e também homem de negócios em empresas dos mais diversos setores como academia, escola de idiomas, restaurantes e até uma startup de educação, o homem que ficou conhecido simplesmente como ‘Bernardinho’ falou com a SportsJob na semana em que se comemora o Dia do Atleta Olímpico, mais precisamente celebrado no último dia 21 de junho.

Em uma conversa aberta e franca, Bernardinho falou sobre a experiência acumulada em sua carreira e como a vivência nos tempos de jogador e agora técnico contribuíram para o seu sucesso profissional. Confira como foi o bate-papo e conheça mais do multicampeão treinador que atualmente comanda a equipe feminina do SESC Rio de Janeiro e se declara um formador de pessoas: “É preciso ir atrás de novos objetivos para procurar sempre manter um espírito jovem”, destaca o carioca.

Como você acredita que a sua experiência dentro de quadra te ajudou no mundo dos negócios?
Os negócios em que estou envolvido de alguma forma, seja como sócio, seja como consultor ou coach (sem o aspecto negativo em que o termo é utilizado atualmente) estão muito relacionados ao time, à preparação e o entendimento da função das pessoas. O fator ‘gente’ é algo muito forte, que tem muito a ver com o que eu faço como treinador. Muito mais do que a estratégia de negócio, novos produtos e inovação, estamos aqui falando muito de cultura, de valores e de pessoas. A experiência e vivência no esporte me trouxeram essa noção da importância disso e é o que eu levo para o mundo corporativo quando eu participo nas empresas em que eu tenho algum tipo de associação.

Como empresário do mercado esportivo, como você avalia os profissionais dessa área? Ao seu ver, existem pré-requisitos aos profissionais que querem trabalhar com esporte ou empresas do meio?
Temos poucos profissionais realmente capacitados, desenvolvendo um trabalho na área de gestão de carreiras. Alguns começam a surgir com uma proposta mais consistente, além da questão ano a ano na carreira dos jogadores, realmente fazendo uma gestão de longo prazo, agregando valor à carreira do(a) atleta, além do ser humano. Falando sobre os agentes, a classe ainda é dominada de pessoas que vivem do dia a dia e de ganhar dinheiro dos atletas. Ainda há muita falta de capacidade e entendimento da função como tal. Na área de gestão esportiva, surgem oportunidades profissionais e cursos em instituições para capacitação de profissionais. A indústria do esporte ainda está engatinhando no Brasil, dando passos ainda sem consistência, mas certamente vem evoluindo dia a dia. Como pré-requisito primordial é importante a preparação.  Ter sido atleta não é uma condição sine qua non, algo obrigatório. É preciso se preparar, conhecer a indústria do esporte, para se ter uma função importante e relevante dentro desse cenário.

Nesta década o Brasil sediou os dois maiores eventos esportivos do mundo. Na sua opinião, qual o cenário do mercado esportivo no país atualmente? Esses eventos trouxeram alguma evolução na gestão e no desenvolvimento do esporte?
Nós sediamos os principais eventos esportivos, Copa do Mundo e Olimpíadas, o que com certeza na área de gestão trouxe contribuição, porque os profissionais viram que há um grande mercado e com isso as pessoas começam a se interessar e se preparar. Acho que ainda não houve uma mudança na indústria do esporte como um todo, longe disso. Não aproveitamos essa onda positiva da realização de grandes eventos e o mercado do esporte não cresceu tanto como deveria e poderia ter crescido. De qualquer forma, esses eventos mostraram que há uma grande indústria a ser explorada e com isso abriram espaço para profissionais da área da gestão esportiva. Muita coisa ainda está aí para ser preenchida, mas isso depende de preparação e capacitação, assim como do surgimento cada vez mais de cursos direcionados para essa atividade que é bastante específica, vendo o esporte não só como uma questão técnica, mas de entretenimento.

Em suas palestras e livros, você fala sobre motivação e compartilha lições aprendidas ao longo de sua carreira. Que dicas você daria aos profissionais que estão iniciando a vida profissional agora e pretendem trabalhar com esporte?
Acho que não existem muitos mistérios. Compartilho histórias e vivências para que as pessoas possam se questionar a partir da minha experiência de vida. Para mim tudo depende de disciplina, de se preparar bem e se capacitar, se dedicando a entender a importância do time e da equipe, de forma que pessoas de capacidades complementares possam formar um time competente e forte para realizar os objetivos e atender as metas. Mais do que querer ensinar algo, é provocar um questionamento nas pessoas para que elas se capacitem e se perguntem de que maneira elas podem se tornar profissionais melhores e mais competentes para desenvolverem as suas atividades.

Você é um profissional extremamente bem-sucedido em todas as atividades que se propôs a fazer. Em seus tempos de jogador, como técnico, além do sucesso no mundo dos negócios… Você tem alguma meta e objetivo ainda a ser realizado? O que planeja para o seu futuro?
Eu tive uma carreira de um atleta esforçado e fiz parte de uma geração brilhante que foi a geração de Prata que abriu um pouco os caminhos para o voleibol brasileiro de alto nível, além da popularização do vôlei no Brasil. Como ainda treinador, atualmente no time feminino do SESC Rio de Janeiro, com uma longa carreira, vejo que ainda tenho muito a aprender a cada dia. Enquanto dou essa entrevista, estou pensando no treinamento que vou dar daqui a pouco, me perguntando a melhor forma de fazer e como dar um melhor treino nessa semana do que na semana passada. Eu diria que ainda tenho muitos projetos e objetivos a realizar. A grande missão da minha vida é desenvolver gente e não apenas treinar jogadoras e jogadores e torná-los melhores. Quero desenvolver pessoas e agregar valores em suas carreiras em todos os sentidos. Cada vez mais, não apenas no esporte, mas também na área empresarial e corporativa, tenho levado essa experiência e falado de gente. Dou aulas na PUC do Rio de Janeiro e pretendo continuar compartilhando as minhas experiências com os jovens que é sempre algo muito enriquecedor. Quero seguir pensando em novos investimentos, novas empresas, novos times esportivos… O objetivo é seguir em frente, não esmorecer. Há sempre novos objetivos para procurar se manter com o espírito jovem.

A sua vida foi construída no esporte. Por meio de seus projetos sociais, você ajudou o desenvolvimento de muitas crianças e jovens. Quais projetos mantem atualmente e como analisa a importância do esporte para a formação de jovens em um país tão desigual como o Brasil?
Há mais de 10 anos criei o Instituto Compartilhar, que tem como objetivo exatamente compartilhar o que o esporte me trouxe com crianças que não tinham essa oportunidade. Fundamentalmente levamos esporte de qualidade, no caso o voleibol, para escolas públicas, onde os jovens não têm essa oportunidade, capacitando e engajando professores com a nossa causa. A ideia é trabalhar o esporte com valores, falando de disciplina, comprometimento, respeito e trabalho em equipe. Atualmente são mais de 3 mil jovens sendo atendidos pelo projeto e queremos seguir em frente. Estamos em diversos estados como Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, São Paulo, entre outros locais. Mais do que formar grandes atletas, o que é natural, é um processo de educação e formação de futuros cidadãos.

Se você gostou dessa entrevista, veja também a matéria que fizemos com  Gustavo Borges, outro grande atleta olímpico! Clique aqui.

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